domingo, 25 de setembro de 2011

Trechos finais do enredo de EURICO, O PRESBÍTERO.

"Eurico, gardingo [visigodo] nobre mas pobre,
amava Hermengada, irmã de Pelágio e filha de Fávila, Duque da Cantábria, que se opôs a este casamento,
Eurico, com desgosto, faz-se sacerdote. Compunha hinos religiosos e antevia a derrocada do império
visigótico. Entretanto os Mouros invadem a penísula e Eurico faz-se guerreiro. Aparece como o Cavaleiro
Negro na batalha de Críssus em que os cristãos são derrotados. Dez cavaleiros fugitivos conduzem
Hermengarda ao Convento da Virgem Dolorosa. Cavaleiros árabes perseguem-nos e atacam o mosteiro.
Cremilde, a abadessa, desfigura as monjas para evitar que elas vão povoar os haréns muçulmanos.
Os mouros, coléricos, degolam-nas e conduzem Hermengarda para a tenda de Abdulaziz, donde é libertada
pelo Cavaleiro Negro (Eurico). Este leva-a para Covadonga, refugio dos cristãos. Hermengarda
descobre-lhe a identidade e pede-lhe que, no dia seguinte, case com ela. Eurico responde-lhe que é
impossível visto não querer quebrar os compromissos do celibato. Pouco depois, morre a combater com três cavaleiros. Hermengarda enlouquece a entoar um dos hinos religiosos de Eurico.

 ÚLTIMA PÁGINA DO ROMANCE. 

Um contra três! - Era um comate calado e temeroso. O cavaleiro da Cruz parecia desprezar Muguite:
os seus golpes retiniam só nas armaduras dos dois Godos. Primeiro o velho Opas, depois Juliano caíram.
Então, recuand, o guerreiro cristão exclamou:
- Meu Deus! Meu Deus! - Possa o sangue do mártir remir o crime do presbítero!
E, largando o franquisque [arma utilizada pelos godos] levou as mãos ao capacete de bronze e arrojou-o
para longe de si.
Muguite, cego de cólera, vibrara a espada: o crânio do seu adversário rangeu, e um jorro de sangue 
salpicou as faces do sarraceno.
Como tomba o aberto solitário da encosta ao passar do furacão, assim o guerreiro misterioso do Críssus
caía para não mais se erguer!...
Nessa noite, quando Peládio voltou à caverna, Hermengarda, deitada sobre o seu leito, parecia dormir.
Cansado do combate e vendo-a tranquila, o mancebo adormeceu, também, perto dela, sobre o duro
pavimento da gruta. Ao romper da manhã, acordou ao som de cântico suavíssimo. Era sua irmã que
cantava um dos hinos sagrados que muitas vezes ele ouviria entoar na catedral de Tárraco. Dizia-se que 
seu autor fora um presbítero da diocese de Híspalis, chamado Eurico.
Quando Hermengarda acabou de cantar, ficou um momento pensando. Depois, repentinamente, soltou
uma destas risadas que fazem eriçar os cabelos, tão tristes, soturnas e dolorosas são elas: tão completamente exprimem irremediavel alienação de espírito.
  A desgraçada tinha, de feito, enlouquecido.  

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